quarta-feira, 15 de abril de 2009

Tô na ponta

I

To na ponta. Sou a ponta da lança, eu sei.
Não adianta gritar ajuda ou ser a lança muda
Peito aberto e corpo fechado, olho que dói de olhar o horizonte,
Meu astigmatismo é só uma marca, a luz foge de mim
Continuo a olhar, só eu, na ponta do país, na porta do sol.
Sou um farol inútil e ofuscado, de meu ponto só ocular,
A lança que emudece, a alma que muda, só.
Sou eu na porta do sol sem um ponto de vista.



II

A cidade que vem por trás engole tudo,
Uma onda que leva a marola como suor de testa.
Sou um farol inútil. Virei poste de rua.
Continuo a olhar o mar igual ao de antes, que mudou?
Sou o ponto cego da visão perfeita de alguém,
Que é convencido de sua não existência
É, eu to na ponta, sei, sou a ponta do país.
Sou a lança que não alcança o destino certo.



III

Mais um dia que passa, menos uma conquista.
Aqui do alto nada é igual, do alto do farol.
Nem a musica é a mesma, uma sensação de mal estar.
Me perdi na linha de pensamento, sou outro agora
Outro diferente pela altura e pelo momento, sou alheio.
Uma fagulha acende-se no horizonte. Lembro minha pequenez.
Assusto, encolho, ainda sou alto demais, fácil de atingir.
É só menos uma conquista, a onda traz , onda leva.



IV

Não é senão só solução, eu só, badulaque, batuque e atabaque.
É do ser sem ser só um, sendo mil postes nós todos um só.
Simulacro dos sinais de fim, a luz que fugiu de mim, singular.
Na dobra da esquina reta que vejo ao horizonte aquém eu.
To na ponta, disseram, olho pluralizado, um só ponto de vista,
Sabe Deus o que será então de mim, do eu e do farol,
Desejos de beleza, tudo em vão. O mar aquieta ao som do violão.
Sentei nós todos em via de contramão...



V

Para qual onda devo, eu, olhar?
Parado em frente ao mar, sentado em minha própria luz,
Senti-me só, outra vez naquele ponto de vista que era só ocular.
Debrucei-me sobre o que já foi um dia uma imagem de mim.
Enfiaram-me fibras óticas, meu brilho hoje é só enganação,
Catarse de um drama que se vive todo dia,
Penso que nada mais condensará tal agonia.
Tudo tem um custo, ser farol, mas não ser guia...

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.