domingo, 30 de maio de 2010

as velas e eu

contrai retina
a luz que bate forte
com um pouco de sorte
meu olho fascina
um tango sem pesar
samba sem tristeza
então toda beleza
me ponho a enxergar
dança de velas bailando
silhueta que será janela
cheiro de manhã lembra ela
numa poesia vem chegando
pra lembrar
esquecer
me deitar
e acordar
sorrindo

quarta-feira, 26 de maio de 2010

1805

Entre pés os ladrilhos
enquadram sem molduras
sorrisos e segredos
carinhos matam os medos
ladrilhos e torturas
passam linhas e brilhos

Entre segundos sem fim
um pensamento calado
nas noites acumula sombra
o canto do quarto assombra
quando não a vejo ao lado
mas só dentro de mim

aqui guardo o melhor
envio num envelope
busca a mão a galope
do corpo o melhor toque
os dedos a escrever
o mais fácil a perceber
é soma de dois contados

domingo, 16 de maio de 2010

semeador

A nuvem desce como cobertor
e sobre a casa grande pousa leve
molha, encharca, inunda meu jardim
retoques das cores que não haviam em mim
em cada gota sua que em breve
tocar a minha face com todo calor

sou hoje o templo onde seu sorriso se esconde
fascínio e areia de ampulheta

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Dança

só quando é noite
na tinta de minha pele
dança carícia morna
e o desenho se torna
nosso palco de Calíope
com sua voz em açoite

justo como quem sente
acordo a perceber
enganador de sentidos
ferventes e confundidos
acalenta o corpo um lençol

no peito abrasado
a certeza que era seu
o toque que é só meu
insônia do olhar calado

Sorrir de um mesmo modo
uma imagem em aquarela
aquiesce meu quarto escuro
e meus olhos que são dela
dança dos sonhos
sacode a alma

sapatilhas e um segredo

domingo, 9 de maio de 2010

Dentro dos meus olhos

a todo momento
meu espelho insinua
detalhes amaciados
travesseiros embolados
uma silhueta nua
transborda minha cama
e como quem ama
adormeço tranqüilo

sexta-feira, 7 de maio de 2010

fogo sem artifício

toca no vazio
deitado na areia
Ampulheta corre depressa
a agonia que não cessa
Fogo correndo na veia
acende meu pavio

o toque na pele
sem toque

terça-feira, 4 de maio de 2010

Topo do mundo

enquanto o céu separa os limites
da compreensão e do querer bem
alcanço a montanha e o cume
visto gotas de seu perfume
deito no alto mais alto que vejo
despido do mundo
mergulho bem fundo
onde não há saída
sublimo desejo

Pergunta (dentro da garrafa)

Quando sobe a noite
e a escuridão abraça
quebrando ventos e vidraça
Quebra-mar e açoite
nas vagas o barco desce
e sacode
tempestade já não pode
naufragar em mim
aquilo que não ancora

envio numa garrafa
a pergunta que há
ou não há
resposta

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.