quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

e se você aparecesse
de surpresa,
ponta de pé,
de surpresa?
e o acaso acontecesse
do seu caso
com o meu caso
se casarem?
e nada mais
faria tanto
sentido, enquanto
sentado
lembro do espanto
e do quanto eu quis tanto
que você aparecesse
de surpresa
em minha vida,
ponta de pé,
e de surpresa
me roubasse de mim.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

intercessivo

desabam pilares,
sísmica sincronização dos céus
e chãos.
tremores internos,
tremores,
temores.
setentrionais amores
bóreos
auroreais.
o horizonte intangível
de longe ri-se colossal
em sua ignorância
do que há aqui dentro,
debaixo do couro
músculos e pelos,
emoção ou reação meramente química,
já não tenho tanta fé,
o ignoto
o que foge dos desabares,
desafia a intangibilidade horizontal
o ignoto;
o que nenhum céu
conseguiria
espelhar

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

naufrágio

e cave fundo
tão fundo
que o enterrado
confunda
olhar semicerrado
confunda
baú já naufragado
que afunda
no chão
do cais

aquém de mim
mar

e quando a nau é grande demais pra caber nós dois?
cheios de pequenos sonhos,
pequenos detalhes,
pequenices.
haveremos de nos perder, Adamastor
mas o medo da imensidão
é só o começo
do restrito
e desistente
bote;
remai.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

abuelita

pras tuas mãos que agarram
minha barba
mãos de guerra
e de vida,
hoje só carícias
sem malícias
tão minhas quanto
seus os pelos que segura
com o afeto
da corda
tão temperada pelos dias
de segurar
embarcações nas ondas,
pra elas
tudo,
em mim, paz.


(para Max Fonseca)

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.