quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

girassol

almejo o sol
tão ardentemente,
escureço por rotação
o resto de minha vida.

o giro cego
e o monstro da perfeição,
não aprendi a chorar.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

tamarindo

desfizestes o azedo ruim-delicioso
do tamarindo de minha tenra infância.
amargo, azedo a falta de doces
falta de geléias, a falta.
(e um poema de amor ruim de Drummond,
prazeres remediados,
mergulhos no mar sozinho)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

cinco cortes

e para quem tem do coração
as contas em dia,
aquele abraço.
que chegue quente
feito abraço
mande uma carta
um embaraço,

apague a luz
ao sair.

sábado, 26 de janeiro de 2013

-alô?

disse que tinha um compromisso hoje cedo.
não falou sobre.
me acordou e era engano.
era Pedro
que amava Daniel que mora em Frankfurt
quadrilha de Carlinhos enquanto
sambo no meio da cidade.
era engano.
muro e engano sem tinta pra se pintar
era sua mão cheia de dedos
e sua bipolaridade.
era eu que amava ela
que ama tecnologia, horóscopos, moda e seriado.
era passado
que ama lembrança
sua mão cheia de dedos não me tocam
(não sou touchscreen)
era Caetano
e era engano.
em Santo Amaro existem flechas negras
é sempre eu tentando
não sentir o peso
do seu sorriso frio
que me castiga, vezes paralisa
meu sorriso
por engano.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

resvala

e quando não há
the perfect expression
23% de desconto
ou um café expresso
pra reafirmar
toda noite?
(dessas noites burras)
(das escolhas burras)
toda noite eu fico um pouco
assim
sem sexo aparente
-e o que é que a gente tá fazendo aqui?
falta vontade
tem faltado.
quase justifico
as contas de orixá em minha parede
por fé,
deveras, não há saída
tudo era só vontade
do meu telefone tocar em cinco minutos
preu ouvir do teu amor,
não há
saída

sábado, 19 de janeiro de 2013

amaro

de manhã cedo
espero a tarde
e anoiteço
as branduras do café quentinho,
espero junho
e uma fogueira,
Lisboa,
não amanhece há dias
tudo é cortina puxada a toa
janela de vidro fosco
onde não há
claridade.
mas é claro, Saulo,
eu nunca havia amado amaro,
lembra uns chás, ou não,
uns assobios,
felicidade súbita, salto de paraquedas
deitar no sofá depois de uma noite de quase sono
e ainda querer-se querido,
paz remediada,
e não há sol
é pálido reflexo.
estar morando na sala de alguém


"este não consola nunca de nuncarás. "

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

peter

minha poesia vulgar
cheia de nomes que ela contém
nomes, nomes que nela se ditam
por minha necessidade de ser ouvido,
pretender começar uma conversa
e tenho tanto a dizer,
mas não digo, Pedro, sou vulgar em poesia
por força da natureza.
teu sono entre remédios,
a falta de ânimo,
pose cruel, diva decadente,
nossas doses de uísque
e surpresas coincidências,
costuram na noite
músicas no repeat
e um jazz vagabundo
descalço

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

poema sem face

não saberia, eu,
do amor das prostitutas pelo luxo.
em plena avenida sete de setembro
às quatorze e vinte e oito
caio em pranto
exercito meus músculos por reflexo
não há crises no mudo, Carlos,
somos todos esperançosos
que uma bomba caia
depois do Atlântico
somos toda a vontade
de olhar sempre por cima do muro.
pernas balançantes
pernas
nenhuma bomba.
(aqui o sol continua a pino)
nunca poderei escrever
um poema de revolta
na beira do mar

ciranda

não és.
nem será possível
gerir corpo alheio
reger paixões, teus eixos
quando te confundo
teu silêncio, teus rejeitos,
Pigmaleão perdido pelo tempo
tua necessidade ou capricho
nem será possível
gerir meu corpo só de memória
idealismo e marcas
do meu léxico falho, confuso,
invasor
não sou, nem nasci em 1902
não suporto silêncio nos ouvidos
não suporto
falta vontade, Carlos,
e me perdoe de antemão,
não é possível ser triste assim
suspeito, te recorto
nem será possível
serei o mudo, mundano
grego, estático
meu paraíso em carrara

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

"botei na peneira
e você não passou"
você não passou
não passou
nem sou, eu, peneira
nem há de passar.
passo por ti, olhos de vidro
e te debates, escorregadia, líqüida;
minhas redes incapazes
são minhas, mas o rio te leva;
você não passou.
estuário infértil
criadouro das mais dores
que o tempo persiste
em guardar
por força bruta, minha vigília


(exercício de criação literária)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

thiê

pediram pra falar de ti,
pequeno.
das águas salgadas
teu rosto de sorvete
das bolhas de sabão que a ti encantam
algas presas em sua roupa
sorriso de nascer dia
dos desenhos que fizestes em minha pele
tua incapacidade de contar o tempo
da camomila em teus cachos loiros
feito chá
acalma a vida
pediram, pequeno,
mas era tanto silêncio
bolha de sabão
desenhos
pele,
eu devia ter sorrido
mas sou cansado

domingo, 6 de janeiro de 2013

dorminhoco

meio-livros cheios de receitas
bolo-pudins, flores no lençol
e as peles negras em Zanzibar;
seus Xelins.
cá na Bahia, tudo bem,
gengibre forte e chá branco antes de dormir
um corpo-templo grego ou chinês
cidade baixa
três câmeras e poucas fotos
fitinhas pro Senhor do Bonfim
me amar um pouquinho
e pensar na vida.
colares, saudade de Pernambuco
de quem vive lá, quem não há em mim
"tudo é mesmo muito grande assim
porque Deus quer"
o sol-pôr da preguiça
o por sal no mar menino
tuas caveiras e Orixás
nossa alfazema e músculos oblíquos antes de sair
ambiguidade de bocas
e hortelã

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.