sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

caminheiro

dos teus cigarros,
molejo, 
cerveja, cachaça
entendo quase
como uma reza.
as tuas riscas
de fogo acendem
todo caminho,
andante, porteiro
errante,
dono de todo passo
Exú,
agradeço a benção,
peço teu abraço.

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Zarabá

Tempo.

escrevo agora
em brancos panos
todo passado
que me doeu,
todo qualquer
que me sofreu,
carregue embora
com sua força
com sua força
com sua força

rezo três vezes

despacho no alto
da tua bandeira
giro o cavalo
três vezes mais
que eu quero ver
não apagar
da minha vida
com sua força
qualquer ferida


segunda-feira, 24 de novembro de 2014

eu tinha 26
quando descobri
que era cínico.

boa parte de mim
queria mais
sabia
que não riria
perdia o senso
sozinho

de resto tudo
- desandava -
em harmonia
com toda certeza
exibida
no meu jeito de falar
de escolher
minunciosamente
qualquer acaso
que servisse pra exemplo
de minha exatidão

de toda essa comunhão

entre o existente
o incrível conveniente

da falta de fé
dos dois ou mais recados
da saudade aguda
da mentira crônica

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Barbalho

teve aquele dia
que eu perdi três coca-colas
numa apostada
de gude.
nunca me recuperei.
ainda me vejo sentado
sem nada nas mãos
e os pés na terra,
um jeito qualquer,
qualquer herança,
esse gostar de olhar
o mundo 
e sofrer um pouco
sem muito
porquê

terça-feira, 16 de setembro de 2014

engraçado
é o tempo passar,
tudo errado,
e num concerto de sorriso
tudo se ajeita.
sempre tem outro dia
pra bronzear 
os sonhos
à beira mar,
amanhã não pode ser
só mais um
qualquer domingo.


sexta-feira, 13 de junho de 2014

curva perigosa

vesti teu espartilho
e te chamei de minha,
apertei tanto
tantos sentidos
engasgados.
emaranhos presos
entre costelas
e ferragens
de um acidente natural
de tudo que engoli
com o que nunca disse.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

na mão.

engulo minha língua
e todos os dentes,
e a noite que passa
muda e banguela
me atropela
sem nenhum grito
de aviso
ou desespero.
desacostumada boca
de vazio.
dessorriso
vago.

domingo, 1 de junho de 2014

amor nos tempos do nada


feito um terminal
pessoas passam,
cabeças baixas,
passo depressa,
sem muito reparar, 
e o medo de mudar
de rota.

tudo é desencontro
de mãos.
esbarros
e um relógio central.

segunda-feira, 19 de maio de 2014

sedamarfim

eu gosto to be stoned. 
e você alavonté,
sem vírgula,
sem sinais,
acho que a chuva
ajuda a gente
a se ver
........ter
amar
santo amaro,
e cachoeira
bater tambor lá no pé da ladeira
e se molhar
sentir tesão
pensar em ter filhos
matar o tempo
no olhar

sábado, 17 de maio de 2014

cítrico

vontade te fazer
louça inglesa 
e te sentir
com chá quente
hortelã e limão 
capim santo,
tanto
que eu queria
que você
quisesse. 

domingo, 11 de maio de 2014

just friends

nada um do outro:
é quando outro
é quase tudo,
até
estranhezas,
o raio que o parta,
asa da xícara
e casca de avelã.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

herbologia

não gosto
dessa coisa toda
de ficar maduro.
bom era passar as tardes
embaixo da mangueira
imaginando que um dia,
sem motivo aparente
ela seria outra,
daria outros frutos,
sua casca,
sua seiva.
e tudo era mais fácil,
feito falar de amor.
falar de amor também era fácil,
hoje as árvores são o que são,
e nada mais 
é mais que nada.

terça-feira, 6 de maio de 2014

um cento.

talvez eu tenha perdido a sensibilidade. 
penso
quanto
mais
tanto ou 
pouco de mim sobrou.
e quanto há,
e muito faz,
desde 
quando
perdeu o sentido.
sinto que talvez
tenha perdido
a sensibilidade.

nunca o amor
fez tanto
tento,
quanto
tanto fez. 

domingo, 4 de maio de 2014

pegar o rabo do foguete
era só mais um sonho infantil.
lacerações,
barba, relógios de bolso,
de qualquer jeito
a gente vai
se virando,
e mesmo quando
viro super herói,
sapo ou travesti,
as esquinas desdobram
os joelhos sambam,
nada mais ascende 
nada mais prende

domingo, 23 de março de 2014

o silêncio de tocaia no escuro
da noite
e dois olhos grandes de segredo,
olha-me.
nos três dias 
que se passam
num instante
chego a imaginar
que a medida do medo
é o tempo.

segunda-feira, 10 de março de 2014

pra cada pedaço seu
caber

desfaço as malas

derramo café
transbordo lençóis
escovo dentes,
penso amanhã
como seria
se só o amor
sobrasse.
penso em termos curtos
de sintaxe miúda,

o quão pouco
espaço

entre pessoas
e minérios.
não há ouro que valha,
revestido no couro
pedrífero,
e tiras e resmas
de gente pensando
outras coisas
por desejar.

que seja duro,
que saiba brilhar.
amar tem seus lances...
vez na praia,
ou na saia,
não perco mais tempo,
tomo minhas chances.

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.