domingo, 29 de dezembro de 2013

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

axé

triste de quem 
falsa além 
e por via das dúvidas 
se ajeita assim
vidro quebrado
por cima da cabeceira
da mesa de centro
de café 
buscando em outro orixá
um pouco de qualquer
sentido
ou axé.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

aquela angústia destilada
ate desfaz segredos
guardados.
contemplação máxima do vazio.
um mês,
três dias
e alguns nadas.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

...

aquela meia 
felicidade 
nos olhos.
a falta de brilho
que só uma imensidão
de vazio
consegue
reluzir
realçar
retorcer.


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

cubo

não tem romance
que alcance
além do frio
cabe na palma da mão
gelado coração
que queima
abaixo
encaixo
no freezer.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

tomada 51

cinquenta sets de gravação
e o imaginário cinema
da minha cabeça,
quando não tenho
nada a te dizer. 
meu silêncio
tem defeitos
especiais.

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

três e meio

passou por perto de mim com as suas mãos
e Deus.
um
dois
três ansiolíticos, wagner e desresponsabilidades
habitam o nada
que eu criei
pra cobrir de qualquer jeito
o vazio
que transborda.
era pra ser poesia,
mas perdi o jeito
de ser sincero
sem ser cruel.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

fita

aprendi a costurar,
tratar carne, 
passar roupa,
a saber parar
e separar as partes
quando for pouco.
enfeito o coração com um fita e laço.
atrevo um vôo,
não dou um passo.

domingo, 8 de setembro de 2013

foi

teu silêncio
faz eco
onde eu quis te fazer minha.
paro, mudo, passeio 
qualquer alguns segundos.
fantástica fantasia
do haveria.
quando eu quis que tudo fosse
já não nunca.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

sábado, 17 de agosto de 2013

amoremim

é tudo dia
depois que passa
três quartos brancos
duas margarinas
cinco varandas
e muitos livros
sobre o passado:
ter encontrado
aquele riso,
da cor da noite,
passou também.

de samba em bamba
tropeço os dias
ajeito pernas
sapatos
meias,
meios 
segundos feios,

quisera nada rimasse
e ela sem que nem pra que
descobrisse
amor
em mim.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

muito sol demais

lembro pequeno
pai trazia o sol pra casa
e descansava as pernas
condoía os ossos
sisudo 
seu terno preto tinha o sol dentro
e só era dia
quando ele saia.
lá em casa tinha cara
de horizonte.
hoje entendo porque ele nao falava.
assustar a noite
dói também. 
pro dia acontecer
nunca ouvi
falar de amor.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

meio sono

ao olhar
não há;
passa o tempo
e ela se tatua
com meus dedos,
sai de casa doida
varrida
diz que na noite
é que se tem vida,
volta partida
rasgada
sofrida,
e na madrugada
poe na mesa da minha copa
café bem quente,
biscoito, louça 
e coração.

domingo, 28 de julho de 2013

gelo

me atravessa frio
imenso,
dos embrulhos no estômago
ao bater de dentes,
paralizo e desconfio:
era amor,
aquilo tudo que me cortava
por entre as roupas,
mas era 
só 
o vento

sexta-feira, 26 de julho de 2013

ei, Carlos.

e nessa coisa toda
de viver
elegendo cicatrizes,
perfeições e idolatrias,
(traços do corpo, roupa
onde pisar, quem pisar)
e na falta da coisa
toda
que me recorde
eu deixo esquecer
amores
serão
sempre
amaro. 



domingo, 21 de julho de 2013

pra que porque?

teus olhos,
vomito flores
vinho
(uma praia no caribe
chove)
sacrifico meus poros
e eles fumam porentremim 
esfumaço papeis 
e tua presença,
nerudesca baleia sonolenta
lenta
tua boca me beija
pra que?

domingo, 14 de julho de 2013

ciranda

liguei ou pensei
em dizer:
te livro do mal
que você me fez.
amanhã não há
noves fora dentro
o mundo é só
fantasia.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

pas du sense

tentei evitar,
mas tudo é muito raro,
vive, solta...
justo assim
já não sabia
que tinha volta.

quarta-feira, 10 de julho de 2013

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Chandon

medo de cortar seus vestidos.
vão lhe caber
como só minhas mãos poderiam saber
fazer
em teu corpo.

domingo, 7 de julho de 2013

solto

a praça é cheia todos os fins de semana.  tudo faz sentido, não sei seu olhar, queria conchar um mar de algodão entre qualquer pedaço meu e seu do mundo. ela boxixa, gargareja, escandaliza, a praça comigo dentro, penso em ir ali comer uma torta doce, passar o tempo na doceria do canto e beira, mas fico no meio, meio-amargo e coberto de avelãs, reduzindo sabores ao puro momento de um giro inteiro de catavento. 

mãe

todo mar é parado.
suas velas dormem,
pandas,
e a areia não pega
o vento pelo rabo,
acabo 
por lembrar:
herdei dela
aquele brilho
que me apaga
em cada olhar.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

pires

repleta e vazia
vai.

acostumada
abismamento menor
das improfundas lamentações,
o gozo baixo
perdido nos pires
e na cristaleira

tudo é um eterno
por partir
ser
e trincar.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

fix you

feito janela
antiga da casa antiga
de vitral,
partido, é lindo de ver,
coração...
mas não presta, não.

passa poeira,
e lá dentro
nada reluz.

sábado, 22 de junho de 2013

seria

Adélia diria
do nosso amor
perdido
que só Deus.
dos olhos seus,
voz rouca
de quase toda
muito pouca
e qualquer,
sequer
começou

segunda-feira, 17 de junho de 2013

puxadinho

e a solidão de voltar pra casa 
linda, bem arrumada
cozinha limpa
pano de prato,
grama, cachorro
varanda e quintal
com roupa no varal
e um tanto por quarar,
e falta o doce
de ter alguem
pra pensar.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

meus

vou assim
cuidando dos meus
e quando dói
cuido dos meus
cuidam de mim,
o resto
é rastro,
o vento apaga
ou tempo
ou vaga

sábado, 8 de junho de 2013

god put a smile upon my face

pedir um amor pra vida inteira
devia ser
dever.
de vez, não dá.
depois
não há,
e a vida inteira
vai ficando
cada vez menor,
inteira
de vazios.

terça-feira, 4 de junho de 2013

XII

amor
passado tempo
é feito o ferro-velho
da rua de trás da igreja,
da praça, da roda gigante,

muita coisa quebrada
amontoada
tentando se encaixar
e ocupar menos espaço,
caber nas bordas
do que era
que já foi
que não é.

íris

fazia tempo...
o desconserto
feito aperto
na retina,
abraça o peito
quase um beijo
ia se perdendo
sorrindo
crescendo

domingo, 2 de junho de 2013

cartomante

se pela manhã
meias, camisas, nublado,
chove meio dia

rua, fones, calor
recife faz falta
brasília também,
tem gente
que nem tanto,
quanto tempo tem
desde que eu passei?
que eu passei...

começo correndo
calçadas, corredor
e a dor vai passando
correndo, pisando,
sapatos, meias, bacias
é domingo e eu ainda
penso nela.

tantos eu
quanto você,
não queremos mais sentir
ar condicionado
pouco do pouco que é dado,
ou faz sol
ou é sol
meu sol em touro
é só mais um poema
que eu te direi.

amarração

deixa eu bater remo
n'água,
mágoa
nao dura pra sempre.

sem saudade no meu cais
dura
pura
pedra pontuda que vejo distante

solta minha mão,
ou vem remar comigo.

sábado, 1 de junho de 2013

paisagismo

tem gente
feito jasmin
enfeitando jardins
no frio
ou quente
que o ano embola.

queria mesmo era um chá
de violeta.
seria eu,
meus olhos tristes,
e tudo enraizado 
tronquificado 
sofrendo distâncias
despetalando segundos.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

sinus amoris

falta um amor pra declarar
tudo por fazer,
deixo sempre
quase tudo a perder
deixo vazar os olhos
na beira dos cílios dela
as mil direções
dos quadros
quadrados
molduras outras
de minha sala
assimetria
e maré cheia
escoa de mim;
rostos que não conheço
na beira dos cílios dela,
não conheço.

caetano falta
tudo por fazer,
e terminar pra que?
a vida é praia
sobe e desce maré
para delírio no convés
ao invés
de ser tudo Caê
é sempre tudo
tudo em minha vida
por fazer.

precipício ela, era ela
era pouco
era vela.
ela panda,
branda cor
tempo, dor
demais dela
ficou.

tom pastel
Caê, coca-cola
e a perdida impressão de estar sempre errado

domingo, 12 de maio de 2013

correvento

tuas varandas
arejadeiras 
de cordas em bordas.

- a gente não vai contra o vento,
acostuma...
redizia assobiado
tilintando partículas
de nós
o mensageiro,
pendurado nas vigas de Ipê.


susto

       "tudo claro
ainda não era o dia
           era apenas o raio"

Leminski, P.
 

ver por cima do muro,
do tempo:
o amanhã é nada.
é tudo agora
e a gente vai assim
fazendo minutos
tecendo segundos
cozinhando as horas
e então
tudo passou.

sábado, 27 de abril de 2013

todavia

não sei falar de amor. não sei falar de futuro, vida à dois, falar de sorte, falar de morte, da maioria de meus pouquíssimos e bons amigos. não sei falar da minha vontade de ir embora, de cafuné quando fico doente, aprender mais uma língua, ser um cozinheiro gourmet e sempre inventar receitas. não sei. não sei sequer se sou boa pessoa, namorado que preste, filho decente, amigo presente, gente que faz falta. não sei falar poesia, poesia dos outros é sempre melhor, não recito, prefiro receita, queria tanto uma receita, escrever ou cozinhar às cegas não dá. não sei falar, mas que mal há?
poesia
da rotina
é silencio

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Barra

dordecabeça,
não fode,
me deixa.

as luzes baixas, postes, ruas iluminadas no meio da noite, os prédios dormem, quase se deitam uns nos outros, a cidade cobre, a rua brilha, o décimo quinto andar observa tudo isso como um por do sol. meu apartamento finge dormir, todo apagado, eu continuo na janela, dor de cabeça, tylenol, água, banho, calor, sem roupa e o uísque da desistência, inútil imaginar o sono da cidade, dói, eu mesmo não durmo.
subi a ladeira apanhando, Bê, acredite. "ah, bem melhor seria poder viver em paz, sem ter que sofrer, sem ter que chorar, sem ter que querer, sem ter que se dar" e Powell vem sambando de fininho, sorriso no rosto, não sorrio, nem ele no fundo, é tudo muito samba de morro, e a gente vai assim sorrindomorrendo um pouquinho, subindo bebinho, com cara de descendo, sem saber ao certo em que pedaço do espaço a gente tem lugar pra pisar mais forte um pouco, fingir que é gente, que nunca na vida inteira doeu o coração.
dorme a cidade toda, aqui, dorme tanta coisa em mim, e quem acorda?
não há remédio pra dor de coração ou tédio.

sábado, 13 de abril de 2013

london

era
eu esse
pedaço
era
pouco
muito pouco
espaço
ao passo
que tudo
passa
acho
graça
acho
que só
uma taça
de champagne
um livro de Adélia
amor perdido
um tiro na mesa
e nenhuma rima
nenhuma fina
fumaça
passa

terça-feira, 26 de março de 2013

amor...

amor, amor,
não vale a pena
bater asa
pra fora de casa
quando a noite cai.
lá no quintal
tanque, pedra e varal
das penas que pendurou,
tuas roupas,
essas muito poucas,
aquele meu vestido;
pousam no sofá
esperando passar
toda a sua dor.

domingo, 17 de março de 2013

domingo

qualquer domingo desse
lhe chamo de surpresa
pra comer comigo
comidinha requentada,
tomar uma cerveja
ouvir Nelson Gonçalves
pisar no chão com a segurança nos pés
dos anos sessenta,
se perder na tarde
enquanto nada é tarde
e da janela
meio jardim
meio afim.

domingo, 10 de março de 2013

manhã

eu sei, bê, decepcionei.
a cidade engole tudo
daqui de cima, são quinze andares,
eu vejo o mar
eu vejo horizontes móveis
eu vejo móveis voarem altura abaixo,
sou tão cego...

Saulo me chamou pra escrever um livro
sobre delicadeza,
que sei eu?
anfetaminado
sinto desejos diante o espelho
reflito os traços no meu corpo
o porto da barra
continua ali

só,
bato minhas ondas na praia
sem sequer banhista desnudo
ou vestido que estivesse
passa um barco
e não sou eu.

revolvo correntes
por dentro de mim
encharco as areias
por pura
e completa
vaidade,
netuno de um copo,
imenso, só eu vejo.

falta verso que faça entender o universo
falta verso
e sobra verão
soberba
minha barba
muitas bocas
poucas palavras

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

saltador

e todo o dia triste
ia lá
afogava pensamentos
sem boias, nem pena.

os cachos soltos da moça que passa
abrigo de páginas
e seus olhos verdes,
uma terra descansada.

fitarei
a poesia
esvanecer:
lá tudo
acontece

corrida das horas
repouso dos pés
no plano
que feito o chão
vai ficando pra trás

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

efim

sou novo
de
novo

passa tudo quanto passa e nada fica
dos caminhos mal percorridos
dos tropeços
nem as unhas
do pé sujo de barro
mantive
cortei os pés
agora
meu negócio
é
voar

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Amaro

monólito desgovernado
me amarro em sua fronte
rolando montanha abaixo
calado.
Amaro, amar é deveras torto
morto
seixo de praia perdido nas águas,
remédios, misturas e lucidez
embriaguez de vinho pobre,
ressaca de março em plena terça feira.
quando o estômago dói faminto,
sedento, em guerra com o resto do corpo,
é a doçura insustentável
da indiferença indiscreta
e escandalosa
os segundos que torturam o relógio
ausente
o veneno vagaroso
irretornável invomitável
descendo pedra precipitada no abismo
rasgando o vento do oco
bate no fundo seco
salino
onde já foi mar

sábado, 9 de fevereiro de 2013

carneviva, carnaval.

tão... nada é tão
imenso
dos toques não dados
do teu lenço
e a urgência
sorrir pra vida,
despedida.

(prometo nunca mais falar de amor)
(prometo porque preciso, minto porque te amo)

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

timmer

Olinda despeja
ladeiras do alto
pra baixo e cima
calorimenso
minha carne é
de carnaval
meu coração
cinza e quarta;
bahia
rio, pernambuco
o raio que o parta

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

thiê

teu olho
acende a manhã
na pupila

meu olho
brilha
cacos de vidro ao sol
bola de gude perdida na grama

a tarde levanta vôo nas asas de um pássaro qualquer,
sem nome, minhas asas.
padeço do mal das tardes que vão
anoiteço um pouco a cada dia
sem aprender a voar.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

1 de fevereiro

gil cava um buraco no chão
do meu peito
enterro os pés
sem saber ao certo
o efeito
faria tão perto
qualquer toque
mais carinho
mas um pouco
eu sozinho

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

girassol

almejo o sol
tão ardentemente,
escureço por rotação
o resto de minha vida.

o giro cego
e o monstro da perfeição,
não aprendi a chorar.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

tamarindo

desfizestes o azedo ruim-delicioso
do tamarindo de minha tenra infância.
amargo, azedo a falta de doces
falta de geléias, a falta.
(e um poema de amor ruim de Drummond,
prazeres remediados,
mergulhos no mar sozinho)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

cinco cortes

e para quem tem do coração
as contas em dia,
aquele abraço.
que chegue quente
feito abraço
mande uma carta
um embaraço,

apague a luz
ao sair.

sábado, 26 de janeiro de 2013

-alô?

disse que tinha um compromisso hoje cedo.
não falou sobre.
me acordou e era engano.
era Pedro
que amava Daniel que mora em Frankfurt
quadrilha de Carlinhos enquanto
sambo no meio da cidade.
era engano.
muro e engano sem tinta pra se pintar
era sua mão cheia de dedos
e sua bipolaridade.
era eu que amava ela
que ama tecnologia, horóscopos, moda e seriado.
era passado
que ama lembrança
sua mão cheia de dedos não me tocam
(não sou touchscreen)
era Caetano
e era engano.
em Santo Amaro existem flechas negras
é sempre eu tentando
não sentir o peso
do seu sorriso frio
que me castiga, vezes paralisa
meu sorriso
por engano.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

resvala

e quando não há
the perfect expression
23% de desconto
ou um café expresso
pra reafirmar
toda noite?
(dessas noites burras)
(das escolhas burras)
toda noite eu fico um pouco
assim
sem sexo aparente
-e o que é que a gente tá fazendo aqui?
falta vontade
tem faltado.
quase justifico
as contas de orixá em minha parede
por fé,
deveras, não há saída
tudo era só vontade
do meu telefone tocar em cinco minutos
preu ouvir do teu amor,
não há
saída

sábado, 19 de janeiro de 2013

amaro

de manhã cedo
espero a tarde
e anoiteço
as branduras do café quentinho,
espero junho
e uma fogueira,
Lisboa,
não amanhece há dias
tudo é cortina puxada a toa
janela de vidro fosco
onde não há
claridade.
mas é claro, Saulo,
eu nunca havia amado amaro,
lembra uns chás, ou não,
uns assobios,
felicidade súbita, salto de paraquedas
deitar no sofá depois de uma noite de quase sono
e ainda querer-se querido,
paz remediada,
e não há sol
é pálido reflexo.
estar morando na sala de alguém


"este não consola nunca de nuncarás. "

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

peter

minha poesia vulgar
cheia de nomes que ela contém
nomes, nomes que nela se ditam
por minha necessidade de ser ouvido,
pretender começar uma conversa
e tenho tanto a dizer,
mas não digo, Pedro, sou vulgar em poesia
por força da natureza.
teu sono entre remédios,
a falta de ânimo,
pose cruel, diva decadente,
nossas doses de uísque
e surpresas coincidências,
costuram na noite
músicas no repeat
e um jazz vagabundo
descalço

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

poema sem face

não saberia, eu,
do amor das prostitutas pelo luxo.
em plena avenida sete de setembro
às quatorze e vinte e oito
caio em pranto
exercito meus músculos por reflexo
não há crises no mudo, Carlos,
somos todos esperançosos
que uma bomba caia
depois do Atlântico
somos toda a vontade
de olhar sempre por cima do muro.
pernas balançantes
pernas
nenhuma bomba.
(aqui o sol continua a pino)
nunca poderei escrever
um poema de revolta
na beira do mar

ciranda

não és.
nem será possível
gerir corpo alheio
reger paixões, teus eixos
quando te confundo
teu silêncio, teus rejeitos,
Pigmaleão perdido pelo tempo
tua necessidade ou capricho
nem será possível
gerir meu corpo só de memória
idealismo e marcas
do meu léxico falho, confuso,
invasor
não sou, nem nasci em 1902
não suporto silêncio nos ouvidos
não suporto
falta vontade, Carlos,
e me perdoe de antemão,
não é possível ser triste assim
suspeito, te recorto
nem será possível
serei o mudo, mundano
grego, estático
meu paraíso em carrara

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

"botei na peneira
e você não passou"
você não passou
não passou
nem sou, eu, peneira
nem há de passar.
passo por ti, olhos de vidro
e te debates, escorregadia, líqüida;
minhas redes incapazes
são minhas, mas o rio te leva;
você não passou.
estuário infértil
criadouro das mais dores
que o tempo persiste
em guardar
por força bruta, minha vigília


(exercício de criação literária)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

thiê

pediram pra falar de ti,
pequeno.
das águas salgadas
teu rosto de sorvete
das bolhas de sabão que a ti encantam
algas presas em sua roupa
sorriso de nascer dia
dos desenhos que fizestes em minha pele
tua incapacidade de contar o tempo
da camomila em teus cachos loiros
feito chá
acalma a vida
pediram, pequeno,
mas era tanto silêncio
bolha de sabão
desenhos
pele,
eu devia ter sorrido
mas sou cansado

domingo, 6 de janeiro de 2013

dorminhoco

meio-livros cheios de receitas
bolo-pudins, flores no lençol
e as peles negras em Zanzibar;
seus Xelins.
cá na Bahia, tudo bem,
gengibre forte e chá branco antes de dormir
um corpo-templo grego ou chinês
cidade baixa
três câmeras e poucas fotos
fitinhas pro Senhor do Bonfim
me amar um pouquinho
e pensar na vida.
colares, saudade de Pernambuco
de quem vive lá, quem não há em mim
"tudo é mesmo muito grande assim
porque Deus quer"
o sol-pôr da preguiça
o por sal no mar menino
tuas caveiras e Orixás
nossa alfazema e músculos oblíquos antes de sair
ambiguidade de bocas
e hortelã

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.