sábado, 27 de abril de 2013

todavia

não sei falar de amor. não sei falar de futuro, vida à dois, falar de sorte, falar de morte, da maioria de meus pouquíssimos e bons amigos. não sei falar da minha vontade de ir embora, de cafuné quando fico doente, aprender mais uma língua, ser um cozinheiro gourmet e sempre inventar receitas. não sei. não sei sequer se sou boa pessoa, namorado que preste, filho decente, amigo presente, gente que faz falta. não sei falar poesia, poesia dos outros é sempre melhor, não recito, prefiro receita, queria tanto uma receita, escrever ou cozinhar às cegas não dá. não sei falar, mas que mal há?
poesia
da rotina
é silencio

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Barra

dordecabeça,
não fode,
me deixa.

as luzes baixas, postes, ruas iluminadas no meio da noite, os prédios dormem, quase se deitam uns nos outros, a cidade cobre, a rua brilha, o décimo quinto andar observa tudo isso como um por do sol. meu apartamento finge dormir, todo apagado, eu continuo na janela, dor de cabeça, tylenol, água, banho, calor, sem roupa e o uísque da desistência, inútil imaginar o sono da cidade, dói, eu mesmo não durmo.
subi a ladeira apanhando, Bê, acredite. "ah, bem melhor seria poder viver em paz, sem ter que sofrer, sem ter que chorar, sem ter que querer, sem ter que se dar" e Powell vem sambando de fininho, sorriso no rosto, não sorrio, nem ele no fundo, é tudo muito samba de morro, e a gente vai assim sorrindomorrendo um pouquinho, subindo bebinho, com cara de descendo, sem saber ao certo em que pedaço do espaço a gente tem lugar pra pisar mais forte um pouco, fingir que é gente, que nunca na vida inteira doeu o coração.
dorme a cidade toda, aqui, dorme tanta coisa em mim, e quem acorda?
não há remédio pra dor de coração ou tédio.

sábado, 13 de abril de 2013

london

era
eu esse
pedaço
era
pouco
muito pouco
espaço
ao passo
que tudo
passa
acho
graça
acho
que só
uma taça
de champagne
um livro de Adélia
amor perdido
um tiro na mesa
e nenhuma rima
nenhuma fina
fumaça
passa

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.