quarta-feira, 25 de abril de 2012

praieira

proto-poesia
viva e emplumada
viva e espumada
repousa as âncoras na praia
tanto cinza era seu voo
tanto breu
descansa suas plumas pálidas
e canta um canto de retorno
às areias e pedras de vulcões
tal oceano, desregra direções
levanta cálida
silêncio e olhar
se apaixona
perdidamente
por voar

sábado, 21 de abril de 2012

Sinus Amoris

é tempo, amor,
de se preocupar com os amigos
é tempo de ser sempre mais
doce
pouco sobra do resto do mundo
e em cada esquina
mímese oceânica
de ondas que já não sei seguir
nem mergulhar

vem já, por favor,
intemperismos de sua natureza
brincam nos relevos
de minha pele.
ser um tanto mais eternidade;
é tempo
de esquecer o tempo
e perdurar

quinta-feira, 19 de abril de 2012

atiradeira

rasgam-se
tocam-se
juntam-se
milimetricamente

suam

o sol lá fora
rasga
toca
junta
tudo aqui dentro
feito pedra de atiradeira
que voa pro alvo
mas não escapa do vento
submissa ao ar

rasga
toca
junta

o ar que me falta

e o sol lá fora
mimeticamente
queima
o céu
e o ar que me falta
ar

ai se todo dia fosse só pedra de atiradeira
e alvo

domingo, 15 de abril de 2012

Áquilo

alento vem
e vento vai
lento
sem curvas
levar ameno
em passo calmo
jeito sereno
uma porção
de amor imenso, tempestivo, trovejante
mas ainda
amor

quinta-feira, 12 de abril de 2012

alvorada

distraído demais
noite demais
diz o bom senso
mas já não penso
é só detalhe
porcelana
e café da manhã
cheio de cheiro
cheiro de sonho
alvorecendo céu
contra sono
contra cama
contrassenso
do sentido
percebido
pela pele
contra pele

vem se por
no meu peito;
amanhã é
tudo de novo.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

oração

baixo o tom de voz
estar a sós
já não há

resta aquela timidez
dos sentidos
se confundindo
aos dela
entendendo de certo
que mesmo longe
ainda estou perto

tom de voz já não há

silenciar diante da beleza das coisas
é admirar duas vezes
com os olhos
e com ouvidos

imaginar a beleza das coisas
é admirar duas vezes
com os olhos
e com ouvidos;

aqui eu falo de prece, uma oração:
me calo, cego, ensurdeço, deito
viro do avesso
respiro, transpiro e não respiro mais.

entendo de certo
que mesmo longe
ainda estou perto...

terça-feira, 10 de abril de 2012

batuque e descanso

nem que fosse
som de tambor
tremendo o chão
e rasgando o ar
ainda seria
trejeito ou magia
extensão das mãos
que ensejam tocar
sua pele
sem melodia
nem que fosse
desmaterializar
meus fragmentos
teus formigamentos
pra me sentir
perto
do lado
ou quem sabe Deus
lá dentro
bonito fosse
chamado o teu colo
alento

ao poeta da janela

é impossível escrever sobre o que passa
o que na rua... ... ... passa...
ignoram-me as coisas simples e complexas
e os meus gostos, gestos, sílabas
todo desacordo some
todo seu acorde come
desafeto ou desalinho que houvesse em mim
e o bonde que não pego
passa
a tinta que emolduramos
passa
toda a brevidade eterna do sorriso sincero
as vezes passa
e agiganta, arrasta, empurra relógio adentro
carrega consigo os dentes
e a fome de mostrá-los
pra que no futuro
quando tudo mais que há
haverá de ter passado
haja lembrança que no meio tempo
meia rua
a descomplexidade de dois braços
em abraço
nunca passaria


(para Tuio)

sexta-feira, 6 de abril de 2012

em branco (quase)

teu cenho me corta
metrifica, pauta
deslinhas da mão-lápis
riscos dos dedos-giz-de-cera
me pintando na noite
madrugada aberta adentro

a pele da gente é sempre mais que papel
precisa
ser riscada
precisa
como preciso
que escreva em mim
teu nome,
não pra lembrar, isso não se esquece,
pra que sinta
tua caligrafia
me acarinhar
fora das gavetas

quinta-feira, 5 de abril de 2012

onze horas

tem dias que falar é desimportante

escrever é menos ainda
tenho gostado mesmo é de sentir
ela sorrir com meu nome dentro
mesmo quando não olho
mesmo quando é só
banco e brisa
e árvore
em silêncio

terça-feira, 3 de abril de 2012

manhã

sê inteiro:
vapor de chaleira
deseducadamente utilizada
pra fazer café,

trocar panelas
é reinventar
o dia.

domingo, 1 de abril de 2012

reflexo II

si nada nos salva de la muerte, al menos que el amor nos salve de la vida.
Neruda



que falte tudo: café, pasta de dente e gasolina,
nó de gravata, talco pra pés, rua, vitrines,
jornal, Ronei Jorge, cinema, teatro e Pina,
músicas de Tuyo, doçuras de Saulo, medo do escuro
que grita depois de toda dobra de esquina,
falte sono, disposição pra levar o dia nas coxas,
vontade de sorrir, controle contra grito e buzina
paciência pra família, vontade de sair fim de semana,
freio, que meus pés não conheçam descanso;
Mas que sobre amor, por favor. Haja sempre um pouco mais de doçura.

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.