segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Mãe maior II

meu quarto faz dias, e faz dias em mim que eu espero passar o mal estar, ele faz dias, conta minutos dentro de mim, brinca de relógio e me deixa cedendo areias por dentro, querendo, fazendo segundos, faz dias que estou estando, fazendo sentidos segundos passarem, nunca mais darei corda no relógio, nunca mais.
tua memória tranca segredos, carrega os castiçais iluminadores dos salões de dança que decoram seu olhar perdido, sinto saudade de seus passos, instabilidade de humor, unhas sem pintar. te vejo de longe lavando pias de pratos sujos onde se escondem vergonhas e a vontade sua de ser de novo graciosa, de força bruta, potência motora, move mundos e tamanhos. teus olhos azuis ainda me fitam, eu queria mesmo que nunca esquecesse que te amo, vó; minha barba, minha pele riscada, meus olhos castanhos; eu aindasempre te amo.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Mudo

que há no jasmim
ou hortelã
faz tão bonito
tão cheiroso
tempero perfumado
do meio do peito cozido
em fogo brando
dores brandas
cheiro de mesa posta
antes do tempo
jasmim da janela
me olha curioso
eu, batendo panelas
gritando remédios
tentando um chá de ampulheta
só queria cozinhar pra ti
a vida toda,
nunca mais fazer a barba
crer no destino feito sábado
sopa, cominho, pimenta
ouvir madeleine, nao ouvir
seus passos indo
da cozinha pra lá
não há sentido
destemporado
tempero flores
dos ladrilhos em calma
e mornidão

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

perdido pelos ponteiros
rochedos, mariposas
alturas, despedaços
mar já não salva
onda quebrada
não atravessa os dias

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

corpo

mexo na boca
devagar
finjo o toque seu
devagar, não me apresso em abrir olhos
não há pressa
na minha barba
na minha pele
não há
nada em mim
que não espere

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.