quarta-feira, 15 de agosto de 2012

doce bordado de flor

não leio poesia
vó dizia enquanto cosia
que morreu de amores
nos tempos de sua alegria
vizinha nova que tinha a mania
de ler versos e versar
pra vida

parei até de lamber panelas
mexer na cesta de pão
olhar janelas,
vó era daquelas
moças bonitas que cosiam
as historias em nós

morrer de amores
só em vida

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Lonjuras

e ela me fala do dia
já pela tarde,
que espera a noite
abrandar.

toda forma de amor:
verniz de misturar cor
ou tinta de silencio e brilho
brilhos dos detalhes
que hoje temos tempo de pintar
nos ladrilhos de cozinha coloridos

há pouco a ser dito, realmente,
escrever é habito,
feito saudade,
a gente se acostuma a ser triste
e mesmo assim sorri
mesmo assim cozinha,
planta a horta, parafusa a janela,
faz plano,
compra iogurte,
ouve chico e caetano,
grita, cala, deita, ama e dorme

há de abrandar qualquer dia.

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Nana

brincar de silêncio
tipo esconde-esconde as palavras
e quando perco
as escondidas
pai diz tem de encontrá-las
palavra perdida é assombração,
esconde os cacos que Nana cata
doída das faces
desaveludada,
seus olhos cresceram pra passarinho
mas faz tanto tempo que não os vejo voar.
do acordar ao infindar
amanha bem cedo
juro catar fantasmas
e o barro dos jarros caídos
dar de presente pro pai uma moringa
um candeeiro pra minha irmã
um passarinho novo e sem gaiola
que pouse sempre na minha varanda

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.