quarta-feira, 26 de setembro de 2018

ali

é manhã e eu quis te dizer que faz sol aqui.
enquanto eu carrego documentos
papéis
visto e passaporte
e com sorte
tudo vai ser só
cansaço no passado, o despedaço de um passado
que eu deixei pra trás no bolso de uma espera
vibrante, desajeitada e que nunca aprendeu a ler as horas no ponteiro analógico.

é que quando eu mandei aquela carta eu já sabia:
nunca dezembro nenhum seria,
nunca mais,
tardes sozinhas que caem pela janela afora
e qualquer música de saudade
que tocasse minha pele pra lembrar
a casa vazia.

tenho errado a mão de propósito em qualquer receita.
acho que a preparação exagerada é um prenúncio;
ou essa vontade exgerada
me confunde.
sal pra dois,
pra dois, uma travessa de pão
pra mais. não faz mal.
quer seja por distração ou encantamento
erro receitas, nem tudo está perdido,
acerto previsões
de signo ou de tarot.

não se engane, esta é uma mensagem direta.
uma enciclopédia musical que eu escrevi pra você,
hoje é ainda quarta-feira.

é qualquer quarta que eu ando do seu lado
rente à calçada com medo de atropelos
e a sensação de pular de paraquedas que sua mão reboca do meu peito afora
agora
eu não saberia dizer por quantas bancas passamos
pero no queda la sensacion de calor
o dia passando
é só pra te dizer que faz sol aqui,
pode ser rotação do planeta,
mas parece sorte.

domingo, 9 de setembro de 2018

sinastria

quando decidi
tornar tudo ao meu redor
um palco místico
concentrado de vela
e qualquer bola de cristal,
rompi.
 
vesti meu óculos de uma perna,
ainda nele enxergo perfeitamente.


tremi as mãos pra te escrever esse bilhete,
entenda,
por muitos anos sem astrologia
quiromancia
um cigarro, dislexia,
eu nao soube dizer porque
qualquer foto sua pareceria tremendamente
próxima
a uma oração. 

acho que talvez
amor seja essa fé
em qualquer coisa
que me leve
a você

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

terreno baldio

esse olhar pra tudo como se eu nunca mais fosse passar por aqui,
me salvou.
por suposto
nunca mais estive
em outro canto
senão
em mim.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

chá de sal

esse cheiro
no ar quando ela
me olha
com os pés na areia
feito
qualquer feito incrível
tem cheiro
quase
qualquer chá de búzio
ou de milagre.

quinta-feira, 5 de julho de 2018

receituário

desato o nó

e o que sobra
no fio de minha barba
o cheiro de cigarro
beirando desespero

passa.

a roupa amarrotada,
passo.
abraço o acaso
não quero

cessa,

amaciante com cheiro de lavanda.

qualquer estrada
tem mais verdade
que uma ciranda.

fica,
eu passo bem
e vou além
da agonia

vai,
que a cegueira
desassossegue
em lucidez.

sexta-feira, 29 de junho de 2018

Oriental

amena
a madrugada se veste de frio
pra doer meus ossos.

eu ainda nem dormi;
essa vigília da escuridão
sem perigos

é preciso estar atento
e sorte

olhar pra dentro
e forte

acender o sol
ou qualquer incenso
oriental

terça-feira, 19 de junho de 2018

vapor

ferver água feito quem tem fé
e sabe esperar
a hora do chá,

de lavar a ferida.

toda água que borbulha
tem um pouco de alento
calor
e despedida.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

varal

o céu quando quer
dobra
espaço dos braços de quem
fica;
vida, caminho, saída
passa;
quara no sol do teu olhar
imenso
a saudadevaral
pinga

minutos

um copo cheio
e vontades
desistidas.

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.