sábado, 27 de março de 2021

cruzamentos

...é Rita, não tem jeito,

há coisas que são mesmo o que são.

eu sento todo dia na linha do comboio

rezo pra Ogum e penso em caminhos,

será que os caminhos pensam em nós?

faz até frio hoje, nem era suposto

cada gota de tinta em meu corpo treme

sinto a poesia do ferro contraído 

contra o chão absoluto, 

luto

pra encaixar pedaços de luz 

pelos olhos astigmatas

nessa descompressão de Março. 

acho que fui feito de metal também, 

aquele que dança com a febre

incapaz de assumir a rigidez dos trilhos,

brilho maleável das estradas lentas

rio

essencialmente cromado no calor das peles.



Um comentário:

Rita Loureiro Graça disse...

Essa poesia é toda ela uma fluência entre linhas, não importa o quanto o mundo precise de trilhos e retas, é na fluidez do metal que o caminho corre. :)

Intangível

​Exú corre no rio E atravessa o tempo Não tem pegada ou encruzilhada Exú corre no rio Tempo avesso e através.